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A Escola Mata a criatividade? - Sir Ken Robinson

Passados que são dezassete anos sobre a palestra TED de Sir Ken Robinson A Escola Mata a criatividade?, vejo-a pela primeira vez.

Lembro-me, na altura, de se ter falado muito dela, por causa duma polémica causada por uma sua afirmação, quando se referia às capacidades da sua mulher: “Ela é boa a fazer algumas coisas.”, se a memória não me atraiçoa. Tal, em vez de me ter aguçado a curiosidade, produziu o efeito contrário e com razão.

Dos cerca de vinte minutos que durou a palestra, apenas uma frase motivou celeuma, uma que nada tem de relevante, no contexto. Todo o restante conteúdo foi ignorado, passado por alto. Esse, sim, deveria ter sido motivo de escândalo, por ser a apresentação clara dum facto indesmentível: a escola mata a criatividade! Bem, até certo ponto, um ponto muito significativo.

Conforme é afirmado, ao redor de todo o mundo moderno, a escola é encarada como uma fábrica de reprodução de conhecimentos, de formatação de mentalidades, sendo raros os exemplos em que ela serve realmente para o que devia: aproveitar, valorizar e ajudar a desenvolver os talentos individuais de cada criança!

Como é lógico, nada na vida é completamente a preto e branco. Este é um desses casos. Se é verdade que a escola suprime, através dos seus processos valorativos artificiais, inúmeros talentos naturais, também não é menos verdade que dá ferramentas a muitos outros para se revelarem. Mas, não seria possível que o mesmo acontecesse com uma escola diferente? Com uma escola que desse mais liberdade às crianças para se expressarem, para desabrocharem naturalmente? Certamente! Uma escola assim não iria castrar talentos, iria potenciar o desenvolvimento de TODAS as capacidades inatas de todos os seres humanos!

Como o palestrante afirmou, uma escola assim não iria dar primazia a umas áreas disciplinares sobre as outras, não iria limitar os recursos disponibilizados aos jovens, não iria ser forreta no apoio dado a TODOS os alunos e não lhes iria provocar pavor ao erro!

Poderá parecer estranho, mas nada disto é novo para mim! Desde jovem que penso que o nosso sistema de ensino está extremamente desajustado/desligado das verdadeiras necessidades dos alunos! Penso, agora que tenho a experiência de trinta anos de ensino, que isto é ainda mais verdadeiro, hoje!

Vejamos alguns exemplos:

  1. Cerca de 42 anos depois da entrada em Portugal dos primeiros PCs acessíveis ao público, a disciplina de TIC está limitada a um número ridículo de minutos por semana;
  2. Os conteúdos da mesma disciplina têm como objectivo fundamental perpetuar o monopólio das Big Techs, em vez de fomentarem o desenvolvimento da criatividade dos alunos através da utilização de software livre, genérico e manipulável;
  3. Disciplinas há que têm uma elevada carga lectiva, enquanto outras lutam para ajudar os alunos a desenvolverem as suas capacidades de interação com outros países, como é o caso das línguas;
  4. As disciplinas da área das expressões são relegadas para um lugar inferior, que coloca completamente de lado o bem-estar físico e mental que podem proporcionar aos jovens;
  5. No geral, os alunos são obrigados a permanecer sentados dias inteiros dentro de salas de aula a ouvir os professores e a desempenharem tarefas que, para muitos, são um aborrecimento;
  6. A criatividade dos alunos é, normalmente, subavaliada e desincentivada, destacando-se sempre os alunos que têm melhor desempenho numas áreas em detrimento de outras, consideradas menos importantes pelo mercado de trabalho. Produzimos, essencialmente, pessoas que são autómatos repetidores de conhecimentos.

Para compensar, a humanidade moderna deposita a sua fé nas soluções milagrosas das Big Techs, que continuamente falham com a concretização das suas promessas de proporcionar verdadeiro bem-estar físico e emocional à maioria da humanidade, enquanto a forçam a vaguear entre países e conflitos em busca de vidas melhores que raramente se concretizam. A humanidade, que se está a autodestruir e a levar consigo o meio ambiente, irá agora ser salva por uma sua criação limitadíssima, a IA (Inteligência Artificial)? Será possível?! Não creio!

Estarei, eu, a desvalorizar a importância dos desenvolvimentos tecnológicos que a humanidade tem alcançado nas últimas décadas? Não! De todo! No entanto, como dizia Sampaio da Nóvoa, precisamos de encontrar equilíbrio entre todos os componentes da sociedade e não nos podemos esquecer que é o homem, o ser humano, que deve estar no centro das nossas preocupações, e não o contrário.

Não nos podemos esquecer de que a tecnologia existe para servir a humanidade e não para se servir da humanidade ou para dar ferramentas a alguns para intensificarem o seu poder sobre os seus semelhantes!

João Pinheiro @joaopinheiro