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Ashley Shew, filósofa, sobre o capitalismo na deficiência. Revista Shifter

[…] há um elemento capitalista em torno da tecnologia que me preocupa. Muitas vezes, quando partes do nosso corpo são propriedade de corporações, isso faz com que a reparação ainda seja mais dificil. E estou a lembrar-me por exemplo da minha amiga, a ciborgue Jillian Weise, que fala sobre não poder modificar a sua perna. Ela tem um joelho computorizado, porque é amputada acima do joelho. Este joelho conta os seus passos, mas ela não o pode reprogramar. Ela só consegue fazer modificações no escritório do Protesista ou enviando a prótese de volta para a empresa para fazer pequenas alterações. É um longo processo e, ao mesmo tempo, eles obtêm dados sobre quanto ela anda, como ela anda. Toda essa informação, se não fores uma pessoa com deficiência, não está a ser recolhida como está no caso da Jillian. E não devíamos ter de abdicar de um monte de informação para as mãos das empresas de modo a andar.

Mas há muitos outros casos, como os olhos biónicos de uma empresa que foi à falência e que agora simplesmente não funcionam, e não os podes reparar porque a empresa já não existe. Não há ninguém responsável, mas as pessoas têm-nos literalmente implantadas no seu corpo. O que é que isto significa? Ter de passar por outra cirurgia para remover estes implantes? É isso que algumas das pessoas estão a escolher fazer.

Há outra empresa que estava a colocar implantes cocleares, que subsidiava uma versão básica para a Índia. Vendiam um implante um pouco menos potente para as crianças na India e o governo indiano é que os financiava. Cinco anos depois, a empresa mudou a sua direção e nunca mais voltou a trabalhar com estes implantes, então teriam de fazer cirurgias para remover implantes e colocar novos, o que custaria ainda mais do que ter implantes que não funcionam no corpo - e estamos a falar de pessoas que não podem pagar por estas coisas. Estar dependente de um sistema que está a tentar fazer o máximo de dinheiro possivel com pessoas que já são pobres não é o ideal.

João Pinheiro @joaopinheiro