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Os telemóveis, os alunos, os professores e o ridículo de tudo isto!

Já cá faltava…

Andava eu distraído a pensar que a loucura ainda não se tinha abatido sobre o meu agrupamento quando uma colega me alertou para a realidade dum documento com um parágrafo que me tinha escapado, pensando que esse assunto estava “bem resolvido” nas escolas onde leciono. O parágrafo é o seguinte:

A utilização dos telemóveis por parte dos docentes, técnicos especializados e pessoal não docente deve acontecer apenas em utilizações de caráter profissional, ou que a sua utilização seja feita em espaços não acessíveis aos alunos.

Para além da questão formal, grave num documento oficial duma escola, destacam-se os problemas de conteúdo. Em primeiro lugar, os professores não têm quaisquer telemóveis “profissionais”; os professores e restantes funcionários das escolas acedem a usar os seus telemóveis pessoais para conveniência/conforto dos alunos, dos encarregados de educação e da própria escola. São os professores a suprir as lacunas de equipamentos das escolas!

Em segundo lugar, é completamente injusto e ridículo que se queira proibir a utilização dos telemóveis pelos professores em espaços onde possam existir alunos, porque, se for para colocar o telemóvel pessoal ao serviço da escola, está tudo bem; se for para telefonar aos meus pais, velhotes e doentes, num intervalo, tenho de me esconder na casa de banho ou noutro sítio qualquer!

Já me disseram “que temos de dar o exemplo”. Pois… E quando é que lhes damos o exemplo do que é ser adulto responsável? Quando é que lhes mostramos que somos todos merecedores de respeito e que desempenhamos funções diferentes, conforme acontece em toda a sociedade? Quando é que lhes mostramos que temos direitos e deveres diferentes?! Como é que eles aprendem que a sociedade vive em harmonia quando se percebe que “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”?!

Reparem que não se diz “os docentes não devem usar os smartphones durante as aulas para fins pessoais”! Fala-se “em espaços não acessíveis aos alunos”, o que quer dizer que estamos a falar dos intervalos, tempo em que os professores nem estão ao serviço!!! Sim, é assim que funciona. Portanto, a escola está a meter o nariz na vida pessoal dos professores, a querer regulá-la! Aliás, há professores que “são obrigados”, por serem de longe, a ficar horas na escola, sem serviço, à espera da próxima aula. Ah, pois, esses até têm muito tempo para se esconder quando precisarem de falar com algum familiar…

Para finalizar, notem que este assunto é complexo. Eu já tenho deixado um ou outro aluno ir fazer um telefonema, porque está doente ou demasiado ansioso com a situação dum familiar doente. Tudo com calma e tranquilidade. Não veio mal ao mundo por isso, porque os meus alunos sabem que podem falar comigo e, quando há problemas, o meu desejo é ajudar no que posso.

A escola serve para ensinar. Proibir não é ensinar! Proibir é criar ditadores, pessoas inflexíveis e autoritárias.

O Conselho Pedagógico, com esta deliberação, feita sem consultar os interessados e afetados pela mesma, não está a ter uma postura pedagógica. Está a ser autoritário, injusto e ridículo ao pensar que pode regular o tempo pessoal dos seus docentes.

Regular não é proibir e não é, também, impor decisões sobre a vida das outras pessoas sem que as visadas as tenham mandatado para isso e sem que as mesmas tenham sido consultadas!

João Pinheiro @joaopinheiro