Pensamentos...

Como já afirmei, aqui, desde jovem que sinto que o sistema educativo nacional não responde às verdadeiras necessidades dos nossos jovens, nem, acredito, às da própria sociedade. O seu objectivo visa criar uma sociedade em que as pessoas são desligadas das suas capacidades naturais e formatá-las de acordo com as necessidades de interesses económicos. Como resultado, assistimos ao desenvolvimento duma sociedade cada vez mais consumidora, mais egoísta, mais desigual. As pessoas nunca vêm em primeiro lugar e muitas das capacidades que deveriam/poderiam ser desenvolvidas são relegadas para o baú das antiguidades e das curiosidades turísticas! Muito do saber e do bem fazer português está a ser descartado com este tipo de educação “one size fits all”! São séculos de história e de conhecimento que se estão a perder.

A formação de professores segue o mesmo princípio: o ponto de partida é o de quem vive atrás duma secretária, são essas pessoas que decidem o que nós precisamos de saber/aprender para melhorar a nossa prática lectiva. Ninguém nos pergunta, aos professores que estão no terreno, o que precisamos ou o que pensamos necessitar para que a nossa prática lectiva seja mais interessante para os nossos alunos e menos esgotante para nós, logo, mais gratificante!

As tecnologias digitais direcionadas para o contexto educativo são um mundo imenso. Isso acontece devido ao facto da realidade educativa ser formada por uma enormidade de situações absolutamente distintas, realidades completamente dispares! Dentro do mesmo país, da mesma região, do mesmo concelho, não há duas escolas iguais. Dentro duma escola, não há duas turmas iguais. Dentro duma turma não há dois alunos iguais! Porque teremos de ter dois professores com os mesmos conhecimentos, com as mesmas necessidades. Como se pode pensar que professores de diferentes ciclos, de diferentes disciplinas têm as mesmas necessidades?! Só quem vive resguardado do mundo real, atrás duma secretária, em Lisboa, no quentinho do seu gabinete com ar-condicionado pode pensar assim! Cada professor terá os seus próprios condicionalismos, conhecimentos, dificuldades, skills. Cada professor terá as suas próprias dificuldades que não cabe a outrem adivinhar. Cabe-lhe questionar, perguntar quais são os problemas que o afligem neste comboio de alta velocidade que é a educação, à semelhança do que afirmou Sampaio da Nóvoa. Só assim se consegue aliviar a angústia que muitos de nós sentimos com a velocidade a que acontecem as mudanças a que temos de corresponder.

Estes meus pensamentos atormentam-me no meu dia-a-dia, enquanto professor e enquanto homem. Vejo professores esgotados a toda a hora! Vejo professores com dificuldades em realizar determinadas tarefas, que vão desde a utilização de ferramentas digitais, hoje essenciais, na sala de aulas, até à avaliação. Propor mais ferramentas digitais a quem ainda não domina as que lhes são essenciais de nada adianta! Quantos professores não sabem usar uma folha de cálculo, por exemplo? Quantos não sabem que existem ferramentas que lhes permitem fazer a avaliação das aprendizagens dos seus alunos, com e envio instantâneo dos instrumentos de avaliação para os seus encarregados de educação? Porque ainda discutimos a possibilidade dos alunos usarem um simples smartphone nas aulas para a realização de determinadas tarefas de aprendizagem e descoberta? Porque há professores que os querem proibir de todo? Nos países nórdicos os alunos do ensino pré-escolar não são proibidos de usar facas e fogo! São ensinados a preparar refeições com eles, debaixo de temperaturas negativas, ao ar livre!

Para que o trabalho educativo alcance o seu objectivo, o de dar ferramentas às pessoas para melhorarem a sua condição de vida e viverem vidas felizes e gratificantes, há que encontrar, em primeiro lugar, os problemas dos alunos e dos professores e não poupar esforços para os resolver.

Para que isso se concretize há que trilhar novos caminhos, como acontece na Alemanha, neste exemplo, à semelhança do que já acontece/u noutros países. É necessário que quem de direito deixe de lado interesses de grandes grupos económicos e comece a investir nas pessoas, dando-lhes verdadeira liberdade para escolher, para criar, para desenvolverem as suas capacidades, valorizando-as! E isso pode (e deve) ser promovido por uma escola diferente, mais humana e mais atenta a cada um dos seus elementos.

O exemplo anterior, em que um país evoluído aposta em software Open Source, corrobora a minha aposta de há mais de vinte anos no mesmo!

Eu escolhi o meu software em função das minhas necessidades, em função de vários factores: qualidade, desempenho, funcionalidade e adequação às minhas necessidades. Não deixei que outros me dissessem o que era melhor para mim. E, quando fui impedido de usar determinado software, encontrei alternativas ou passei a usar o que me proporcionaram de modo a corresponder às minhas necessidades.

Para a minha prática lectiva, 95% (ou mais) do software é Open Source. No entanto, dado que as políticas recentes do Ministério da Educação se afastaram do mesmo, vi-me obrigado a adquirir uma licença dum software educativo, o Socrative. Considero lamentável a substituição do Moodle pelas plataformas da Google e da Microsoft, para além de as mesmas me levantarem muitas dúvidas quanto à legalidade da sua utilização em contexto escolar, na União Europeia, face à legislação actual.

Ao longo das três décadas de dedicação exclusiva ao ensino, procurei sempre encontrar soluções para os meus problemas e para os dos meus alunos, para tonar o meu ensino mais eficaz e interessante. Encontrei muitas delas, a sua esmagadora maioria, em software livre, com uma ou outra excepção. Esta formação pouco ou nada alterou essa minha visão, não por culpa dos formadores, mas por erro total na abordagem que se continua a ter em relação à formação! O ensino individualizado parece ser só necessário para os alunos!

Ter conhecimento de novas ferramentas não é mau. Mas, será que é útil perder tempo com propostas de empresas comerciais que não se dirigem às minhas necessidades? Não creio. Será que é útil ver professores possuidores de formação D-N3-02– Capacitação Digital de Docentes – Nível 3, capacitados para serem líderes na entreajuda aos seus colegas, subaproveitados, sentados a fazer uma formação que nada lhes acrescenta em termos de utilidade para a sua prática lectiva e em nada beneficia os seus alunos? Também não creio! Tal como não creio que seja útil vermos projetos interessantes, que permitiriam aos alunos desenvolverem as suas capacidades criativas e alavancar toda a sociedade, serem cortados, contrariando os objetivos da formação onde eles nasceram!

Neste projeto, usei todas as ferramentas que foram abordadas nesta formação. Não o fiz por sentir essa necessidade ou por sentir que elas serão mais importantes na minha prática letiva. Elas não me fazem falta! Também não o fiz por as considerar melhores do que as que já usava. Fi-lo porque tinha de o fazer. Algumas delas até já as uso desde que fui forçado a deixar de usar o Moodle do Agrupamento, como referi anteriormente. Porém, fiz questão de incluir vários exemplos das inúmeras ferramentas de que faço uso diariamente, incluindo algumas instaladas e mantidas por mim em servidor próprio. São ferramentas simples e eficientes, que adotei para ajudar os meus alunos na sua aprendizagem da língua inglesa. São meros exemplos do que podemos fazer; exemplos do que a criatividade e a liberdade individuais permitem realizar num mundo em constante evolução.

Finalmente, se há algo que eu desejo ensinar aos meus alunos é a noção de que somos todos pecinhas importantes e livres dentro desta sociedade em ebulição. Tudo o mais tem a sua origem nesse pressuposto.

Deixemos os nossos professores voar e fazer as suas escolhas livremente e eles levarão essa liberdade a cada um dos seus alunos! O futuro será muito mais criativo, próspero e gratificante para todos!

João Pinheiro @joaopinheiro